No mundo do jazz, a busca por uma voz única e autêntica é um dos maiores desafios para qualquer músico. Como podemos honrar a rica tradição do bebop e, ao mesmo tempo, soar modernos e relevantes?
Recentemente, nos deparamos com um vídeo fantástico do canal “Jazz Lesson Videos”, apresentado por Ryan Develin, que aborda exatamente essa questão. O vídeo, intitulado “Modern Jazz Concepts On Top Of Traditional Bebop Language”, oferece uma fórmula prática e eficaz para injetar uma dose de modernidade em sua linguagem de improvisação. Inspirados por esse conteúdo, decidimos aprofundar o assunto e trazer para vocês um guia completo para transformar suas frases e solos.
Aqui está o vídeo original para quem quiser conferir:
Vamos mergulhar nessas dicas e expandir nossos horizontes musicais!
1. Células Cromáticas: O Segredo para Conectar Ideias
Uma das marcas registradas do bebop é o uso de cromatismo para criar tensão e resolução. No vídeo, Ryan Develin demonstra como a aplicação de células cromáticas pode servir como uma ponte entre o tradicional e o moderno.
A ideia é simples: comece uma frase com uma célula cromática e resolva-a em uma frase bebop clássica, como as de Charlie Parker. Isso cria uma sensação de “outside” (fora da harmonia) que se resolve de forma satisfatória no “inside” (dentro da harmonia).
Aprofundando o conceito:
O cromatismo no jazz não é apenas sobre tocar notas fora da escala. Trata-se de uma abordagem sofisticada para “circular” as notas-alvo de um acorde, criando um senso de movimento e expectativa. Ao praticar o uso de células cromáticas, você desenvolve a habilidade de tecer linhas melódicas complexas que sempre encontram o caminho de volta para a harmonia principal.
Como praticar:
- Comece praticando células cromáticas de 3, 4 ou 5 notas sobre acordes estáticos.
- Em seguida, aplique essas células a progressões comuns, como o II-V-I, sempre resolvendo em uma frase bebop que você já domina.
2. Grandes Intervalos: Quebrando a Monotonia Melódica
Muitas vezes, nossas frases de improviso tendem a se mover em graus conjuntos, o que pode soar previsível. A introdução de grandes intervalos, como quartas e quintas, pode quebrar essa monotonia e adicionar um elemento de surpresa e modernidade ao seu som.
No vídeo, a sugestão é combinar o uso de intervalos amplos com frases tradicionais, como a famosa “Crimea River lick”.
Aprofundando o conceito:
Músicos como John Coltrane e McCoy Tyner foram pioneiros no uso de intervalos de quarta em suas improvisações, criando uma sonoridade mais aberta e angular. A exploração de grandes intervalos não apenas expande seu vocabulário melódico, mas também te força a pensar no braço do instrumento de uma maneira diferente, abrindo novas possibilidades técnicas e criativas.
Como praticar:
- Pratique escalas em terças, quartas, quintas, etc., para se familiarizar com a sonoridade e a digitação desses intervalos.
- Tente criar suas próprias frases usando saltos intervalares e conecte-as a licks que você já conhece.
3. Substituições de Acordes: A Magia da Reharmonização
A substituição de acordes é uma ferramenta poderosa para adicionar complexidade e sofisticação harmônica às suas improvisações. O vídeo destaca duas substituições modernas populares: a substituição de trítono e a escala alterada.
A abordagem proposta é usar a substituição moderna para criar tensão e, em seguida, resolver essa tensão com uma frase tradicional.
Aprofundando o conceito:
- Substituição de Trítono: Consiste em substituir um acorde dominante por outro acorde dominante que está a um trítono (três tons inteiros) de distância. Por exemplo, em uma progressão II-V-I em Dó Maior (Dm7 – G7 – Cmaj7), você pode substituir o G7 por um Db7. Isso funciona porque ambos os acordes compartilham as mesmas notas-guia (o 3º e o 7º grau), que são as notas que criam a tensão do dominante.
- Escala Alterada: A escala alterada é uma escala de sete notas que pode ser usada sobre acordes dominantes para criar uma sonoridade rica em tensões (b9, #9, #11, b13). É uma ferramenta essencial para qualquer músico de jazz moderno.
Como praticar:
- Identifique os acordes dominantes nas músicas que você está estudando e experimente substituí-los por seus substitutos de trítono.
- Aprenda a escala alterada em todas as tonalidades e pratique a criação de frases usando as tensões características dessa escala.
4. Células Melódicas: Construindo Frases com Coerência
Por fim, o vídeo aborda o uso de células melódicas, que são pequenas ideias musicais que podem ser desenvolvidas e transformadas ao longo de um solo. A sugestão é começar com uma frase melódica de um mestre do jazz, como Dexter Gordon, e em seguida, desenvolver essa ideia usando células melódicas que se movem para dentro e para fora da tonalidade.
Aprofundando o conceito:
Dexter Gordon era conhecido por sua habilidade de contar histórias em seus solos, e o uso de células melódicas era uma parte fundamental de sua linguagem. Ao trabalhar com células melódicas, você aprende a desenvolver suas ideias de forma lógica e coerente, em vez de apenas tocar uma série de licks desconexos.
Como praticar:
- Transcreva um solo de um de seus músicos favoritos e identifique as células melódicas que ele usa.
- Experimente pegar uma dessas células e desenvolvê-la de diferentes maneiras: invertendo-a, mudando o ritmo, aplicando-a a diferentes harmonias, etc.
Conclusão: O Melhor dos Dois Mundos
A beleza do jazz está em sua capacidade de evoluir e se reinventar constantemente. Ao combinar a solidez da tradição bebop com a ousadia dos conceitos modernos, você pode criar uma música que é ao mesmo tempo enraizada na história e voltada para o futuro.
Esperamos que estas dicas, inspiradas no excelente vídeo de Ryan Develin, ajudem você a expandir sua criatividade e a encontrar sua própria voz no mundo do jazz. Agora é com você: pegue seu saxofone e comece a experimentar!
Até a próxima!


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